Variação da língua portuguesa no espaço: Brasil e Moçambique
 A língua varia no tempo e no espaço da sua utilização, ao longo da sua própria história, bem como da vida dos seus falantes, decorrente de determinantes sociais, culturais, históricas, geográficas, profissionais e académicas. Isto pode ocorrer em todos os níveis (fonético, fonológico, sintáctico, semântico, morfológico, paradigmático, etc.).
 Assim, podemos considerar as seguintes variações:
 Variações geográficas ou diatópicas — as variedades linguísticas que, em certa região, apresentam características bastantes para as diferenciarem da língua comum de uma determinada sociedade. São os dialectos ou falares regionais;
 Variações sociais ou diastráticas — variações linguísticas provocadas pelas características de falante e de grupo e pelas circunstâncias da situação comunicativa. São os dialectos sociais, níveis ou registos de língua. Tal como sublinha Moura (2009: 265), um falante pode usar diferentes níveis de língua (corrente, popular, cuidado, familiar e literário, sem excluir o calão e a gíria);
 Variações difásicas: – diferenças entre os tipos de modalidade expressiva (língua falada, língua escrita, língua literária, etc.).
 Neste capítulo, interessam-nos as variações diatópicas entre Brasil e Moçambique. Tal como referem Mateus et alii (2003:34), em línguas com larga história de expansão mundial e de mobilidade dos seus falantes nativos, tais como o português europeu e o brasileiro, observa-se a existência de variedades que se vão progressivamente fixando e autonomizando. Esta variação é um ganho para a própria língua, pois enriquece-se o léxico com a introdução de palavras novas relativas aos diversos universos de referenda. 
 «Exemplos das variações entre o português de Moçambique e o português do Brasil Todas as variedades linguísticas são estruturadas e correspondem a sistemas e subsistemas adequados as necessidades dos seus usuários. Mas o facto de a língua estar fortemente ligada a estrutura social e aos sistemas de valores da sociedade conduz a urna avaliação distinta das características das suas diversas modalidades diatópicas, diastráticas e difásicas», defendem Cunha & Cintra (1991). 
 A língua portuguesa apresenta algumas diferenças quanto a utilização que dela se faz em alguns países do mundo. 
 Entre o português falado em Moçambique (PM) e o português falado no Brasil (PB), por exemplo, existem algumas diferenças. Vamos analisar com mais pormenor algumas dessas diferenças. 
 Por exemplo, enquanto no PM dizemos «Hoje, a Maria não apareceu por aqui», no PB diz-se «Hoje, Maria não apareceu por aqui»
 Portanto, o que difere nas duas construções é que na primeira construção (PM) o artigo antecede o substantivo ou nome (Maria), ao passo que na segunda construção (PB),o substantivo ocorre sem nenhum artigo a antecedê-lo.
 Podemos, assim, depreender deste exemplo que no PB omitem-se os artigos, ou seja, os substantivos ou nomes ocorrem sem determinantes ou artigos a antecedê-los, enquanto no PM não se verifica tal irregularidade.
 Vamos ver uma outra situação: 
 PM: Vou comprar o meu vestido. PM: Não conheço a sua mulher.
 PB: Vou comprar meu vestido. PB: Não conheço sua mulher. 
 Outro exemplo, no PB, diferentemente do PM, registam-se as seguintes ocorrências: 
 A palatalização do ti e di (em palavras como tia, sete, dia); 
 A semivocalização do L final de sílaba e de palavra (Brasil, capital, funil, canal); 
 Introdução do I entre duas consoantes (casos anteriores e também aptidão). 
 Tomando como base os exemplos acima apresentados, podemos salientar que, quanto ao nível morfológico e sintáctico, no PB é habitual, antes do possessivo pronominal, a ausência do artigo. Pelo contrário, no PM temos sempre o artigo a anteceder o possessivo pronominal, salvo nos casos em que a frase é construída incorrectamente. As regras, porém, ditam a colocação do artigo antes do possessivo pronominal ou antes do substantivo.
 Todas as variedades linguísticas são estruturadas e correspondem a sistemas e subsistemas adequados as necessidades dos seus falantes. Mas o facto de a língua estar fortemente ligada a estrutura social e aos sistemas de valores da sociedade conduz a uma avaliação distinta das características das suas diversas variações diatópicas, diastráticas e difásicas (Cunha & 
 Resumidamente, podemos definir cada uma destas variações do seguinte modo:
 - Variações diatópicas — são as que se referem a falares locais, regionais e intercontinentais (como é o caso do português do Brasil e do português de Moçambique).
- Variações diastráticas — são as que se referem as diferenças verificadas na linguagem das várias camadas socioculturais.
- Variações difásicas — são as que dizem respeito aos diferentes tipos de modalidade expressiva (língua falada, escrita, literária).
Neste contexto, é ainda importante distinguir dialecto de língua padrão.
 O português falado em todo o mundo é, apesar de tudo, uma língua bastante homogênea, devido a acção de diversos factores, entre os quais se destacam a ampla difusão dos meios de comunicação e a implantação do ensino obrigatório. O traço de união entre as variedades que se registam nos diferentes países é a língua padrão, que funciona como um modelo linguístico. Entre as muitas variedades de uma língua, há uma que se destaca e é escolhida pela sociedade como modelo. A língua padrão é a variedade social de uma língua que foi legitimada historicamente enquanto meio de comunicação da classe média e da classe alta de uma comunidade linguística.
 Os acontecimentos históricos, os contactos com falantes de outras línguas, o tempo, entre outros factores, determinaram que o português se fosse progressivamente diferenciando de região para região. Sofreu numerosas mudanças a medida que se foi implantando em diferentes espaços geográficos, mudanças essas que deram origem a diversas variedades. Em cada região encontramos uma variedade distinta, com os seus traços particulares. No Brasil não se fala um português idêntico ao de Moçambique e mesmo em Moçambique há diferenças entre o falar de um falante do Norte e o de um falante do Sul.
 Chamamos variedades geográficas, dialectos regionais ou, simplesmente, dialectos a estas diferentes formas que a língua apresenta consoante as regiões em que é falada. 
 Bibliografia
 CINTRA, Nova Gramática do Português Contemporâneo, Edições João Sá da Costa, 1991, Lisboa
GONÇALVES, Perpétua, A construção de uma gramática do português de Moçambique: aspectos da estrutura argumental dos verbos, Lisboa, 1990
HAMILTON, Russell, A literatura dos países africanos de língua oficial portuguesa. Edições Cosmos e Cátedra Jorge de Sena, Rio de Janeiro, 2000
MATEUS, Maria Helena Mira, Português europeu e português brasileiro: duas variedades nacionais da língua portuguesa. Gramática da Língua Portuguesa, 5.ª ed., Lisboa, 2003
 
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